Construindo a Visibilidade Bissexual no Brasil
O Brasil é um país racista, misógino e atualmente governado por um presidente autodeclarado LGBTfóbico. Tendo isso nítido, é importante ainda localizar o Brasil como um país que se encontra num tempo/espaço de pós-golpe de Estado. Duplo. Em 2016, com a derrubada no meio do segundo mandato da primeira presidenta mulher eleita, Dilma Rousseff; e em 2018, com a conturbada eleição, marcada pelo envio em massa de mensagens falsas via whatsapp, do autodeclarado LGBTfóbico que atualmente nos governa, Jair Bolsonaro, após a cassação e prisão do maior líder político e popular do Brasil, Lula da Silva, o candidato com maior intenção de votos para presidência em 2018 e principal oponente de Bolsonaro.
Pouco tempo depois dessa turbulência política e social, que por décadas ainda iremos sentir os reflexos em nosso país, chega o ano de 2020 - um ano que impactou o mundo inteiro com a inesperada pandemia de COVID-19. Com ela, uma onda de grande solidão e medo generalizado se espalhou pela população. Nesse aspecto, iniciativas de movimentos sociais trazem uma perspectiva de amparo e acolhimento para uma população amplamente afetada pelos mandos e desmandos de nosso governo negacionista genocida, agravada pelo distanciamento e isolamento social: a população LGBT+ e em especial, a comunidade bissexual. No Brasil de 2020, a criação da Frente Bissexual Brasileira e do Festival Bi+ se tornou um respiro essencial para uma grande parte das pessoas ativistas bissexuais brasileiras. 2020 nos trouxe obstáculos imensos, como o distanciamento social. Mas também veio com ele uma resposta rápida e assertiva, que foi a aproximação dos grupos ativistas. Enquanto movimento bissexual, estamos mais unidos que em qualquer outro momento de nossa história recente.
O MOVIMENTO BISSEXUAL BRASILEIRO ONTEM
Para entender melhor de onde partimos hoje, devemos dizer que a história do movimento bissexual brasileiro sofre de uma invisibilidade gritante. O movimento LGBT+ brasileiro começou a se organizar na década de 1970 e, embora pessoas bissexuais tenham participado ativamente de sua construção desde o início, apenas no começo dos anos 2000 tem-se notícia desses nomes reivindicando sua bissexualidade de forma identitária nessa construção.
No ano de 2002, surge em João Pessoa/PB o Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais Maria Quitéria reivindicando pautas e visibilidade de mulheres LB e expondo a lesbofobia e a bifobia dentro do movimento GLS. No ano de 2004, São Paulo inseriu o B de bissexuais na sigla da maior parada do Orgulho do Brasil de forma definitiva, e também começaram encontros do projeto Espaço B, que era um espaço de expressão e de informação para quem "se sentia bissexual" (conforme definição do projeto) ou queria saber mais a respeito, junto à Associação da Parada GLBT de São Paulo. A exclusão da letra B de bissexuais durante o XI Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Transgêneros em 2003 foi o ponto de partida para a criação em outubro de 2004 do Núcleo de Bissexuais no Estruturação, grupo LGBT de Brasília, que entre 2004 e 2006 produziu um folhetim chamado “Jornal BIS – Unindo Forças”. Em 2005 surge a primeira iniciativa de organização bissexual nacional, o Coletivo Brasileiro de Bissexuais (CBB), que dura até 2007.
Na década de 2010, o movimento começou a pautar além de sua existência, suas especificidades e seu lugar de fala como coprotagonista de um movimento que se pretende LGBT+. É criado o Coletivo Bi-sides, inicialmente como um blog com relatos de vivências e também com informações traduzidas para o português sobre a bissexualidade. Outras atividades marcaram a década, como uma oficina sobre bissexualidades no município de São Carlos e piqueniques pela visibilidade bi nos estados de São Paulo (cidade de São Paulo, organizado pelo Bi-sides) nos anos de 2010 e 2011, e em Santa Catarina (cidade de Joinville, organizado pela Associação Arco-Íris) no ano de 2010. A partir de 2013 surgem outros grupos voltados para o ativismo bissexual, como o Coletivo BIL - Coletivo de Mulheres Bissexuais e Lésbicas no estado de Minas Gerais e o MovBi - Movimento de Bissexuais na Paraíba. A partir daí surgem também iniciativas afirmativas que buscam dar visibilidade à presença histórica de pessoas bissexuais dentro do movimento LGBT+: como (i) a mudança da sigla do mais antigo seminário nacional (desde 1996), que se constitui como um dos principais espaços de articulação de lésbicas e mulheres bissexuais do Brasil, o Seminário Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (SENALE) para SENALESBI, uma importante conquista do grupo de trabalho de bissexuais da edição de 2014, (ii) a primeira Caminhada do Orgulho e Visibilidade Bissexual de São Paulo, realizada em 2017, (iii) a primeira edição do Bloco BiPanPoli+ na Parada LGBT de São Paulo em 2018, (iv) e no mesmo ano a realização de um Bloco Bi na Parada LGBT de Belo Horizonte. Desde então há um aumento significativo de grupos e coletivos bissexuais espalhados por todo o país e de iniciativas de organização de pessoas bissexuais em grupos mistos LGBT+.
PEQUENAS GRANDES CONQUISTAS DO MOVIMENTO BISSEXUAL BRASILEIRO
Apesar das dificuldades e retrocessos dos últimos anos, podemos encontrar algumas realizações e conquistas sociais e de visibilidade da pauta bissexual no Brasil. Destacamos três eixos de conquistas ou visibilidade da pauta bissexual no Brasil hoje: na saúde, na arte e mídia, e na política.
SAÚDE:
Em todo país tem-se formulado Políticas Públicas para a saúde LGBT+ e muitas pessoas bissexuais estão envolvidas nessa produção. Citamos duas iniciativas de destaque: como o (i) caso do estado de Minas Gerais, que publicou em 2020 uma "Política Estadual de Saúde Integral LGBT", avançando em relação a Política Nacional de Saúde Integral LGBT publicada em 2011. Enquanto na política nacional a saúde das pessoas bissexuais é nomeada e garantida genericamente, na política estadual mineira há a incorporação de especificidades em saúde de pessoas bissexuais, por exemplo, no objetivo específico da política estadual de desenvolver estratégias de prevenção às tentativas de autoextermínio e automutilação da população LGBT, consta a previsão de que feito o recorte de orientação sexual, se observe, em especial, a população bissexual. E (ii) a iniciativa orgânica de militantes bissexuais que no ano de 2020 produziram uma carta voltada para profissionais da psicologia e para o Conselho Federal da profissão (entidade de classe que a organiza e orienta) onde se discorre sobre como a bifobia impacta a prática das terapias e da saúde mental. A carta clama por mudanças e para que o Conselho Federal de Psicologia edite uma normativa vedando práticas bifóbicas no acolhimento em saúde mental no Brasil. Como movimento, a saúde mental de bissexuais é uma grande preocupação, vide dados (principalmente estrangeiros) que demonstram índices para essa população muitas vezes piores que o restante das pessoas, entre todas as sexualidades.
ARTE E MÍDIA:
Há anos acompanhamos declarações públicas de artistas no Brasil se assumindo bissexuais, mas a bifobia até hoje invisibiliza ou apaga essas identidades. Artistas como Cássia Eller, Renato Russo, Cazuza, Ana Carolina e Preta Gil são ícones musicais brasileiros que já expressaram abertamente sua sexualidade como monodissidente, mas são pouco lembrados por ela. Ou pior, são ditos pela mídia ou por terceiros como homossexuais. Ainda assim, cada vez mais temos visto os corajosos relatos de artistas contemporâneos, mostrando que essa invisibilização tende a ficar para trás, pois muitas pessoas bissexuais escutam e repercutem suas falas. Quando a cantora Anitta (hoje com 50 milhões de seguidores no Instagram) declarou ser bissexual há alguns anos, a internet ficou em polvorosa. Em parte houve muita deslegitimação baseada em discursos frequentemente direcionados a pessoas bi ou pansexuais: que "está fazendo por atenção", que "quer ser vista como descolada", ou que é uma "mulher vulgar", etc. Vimos também declarações sobre suas sexualidades monodissidentes vinda de artistas populares como as atrizes Camila Pitanga, Alessandra Maestrini e Ana Hikari e as cantoras Ludmilla e Letrux.
O impacto desse movimento de visibilidade se reflete nas produções audiovisuais nacionais. No Brasil, a bissexualidade é um tema também presente na cultura midiática, ainda que pouco frequente. Importante território de disputa de significados, a cultura midiática brasileira produz, circula e reafirma diversos tipos de significados em torno das nossas vivências. O que isso quer dizer? Bom, sendo a cultura e a comunicação partes fundamentais da estrutura social, é correto dizer que ambas são tanto um reflexo da sociedade quanto agentes de sua construção. Ou seja, aquilo que pensamos sobre um grupo não nasce conosco: tudo aquilo que circula na nossa cultura forma o que pensamos umas sobre as outras. Assim, o que se produz midiaticamente sobre bissexualidade no Brasil é espelho e formação daquilo que se pensa sobre bissexualidade no Brasil.
Hoje em dia, contudo, sabemos que produções culturais, sobretudo de mídia, não passam imunes à crítica popular, tendo seus detalhes comentados por quem tenha acesso à internet e queira construir suas análises. Sempre foi assim, mas a internet trouxe uma oportunidade de maior visibilidade à recepção do público. Assim, a crítica cultural deixa de ser exclusiva de jornais e revistas especializadas, tendo mais pessoas compondo a cena crítica das mídias brasileiras e, sem dúvidas, interferindo no retorno do ciclo e nas produções culturais com suas opiniões. Nesse âmbito da crítica midiática, percebemos um tema prioritário: a exigência por representações mais adequadas. Comunidades minoritárias politicamente passaram a pontuar as problemáticas das representações de si. No Brasil não é diferente, pois produtos midiáticos com capacidades profundamente diversas de produção e distribuição entram no debate público. Porém, produções de alcance nacional, com melhores recursos financeiros e de distribuição são, certamente, mais capazes de circular pela população, levando seus significados sobre bissexualidade a territórios mais largos que produções alternativas com menos recursos - algo que não ocorre aleatoriamente, visto que há muito ataque às artes neste país, sobretudo neste momento, e com maior repressão às pequenas produtoras.
Telenovelas são muito populares no Brasil. Ainda que estejamos na era do streaming, a televisão aberta continua presente como personagem doméstico característico e forte da história da família brasileira. A bissexualidade também passa por esse meio de representação da realidade. Podemos dar alguns exemplos mais relevantes das últimas décadas, produzidas e exibidas pela emissora de maior sucesso e relevância no país, a Rede Globo, com abrangência de 99,45% do território nacional.
Os bastidores da telenovela Torre de Babel (1998) trazem um fato inusitado: a trama de uma personagem bissexual que foi cancelada antes mesmo de ser filmada. Na sinopse original do folhetim, o casal de mulheres Rafaela e Leila seriam separadas pela tragédia da morte de Rafaela. Com isso, Leila se apaixonaria por uma mulher mais velha, Marta, uma vez ela tendo se separado do marido César Toledo. As personagens Marta e César Toledo foram interpretadas por um casal real, formado pela atriz Glória Menezes e Tarcísio Meira, que representam valores tradicionais no imaginário da sociedade brasileira (notadamente da cisheteronorma). Ao ter conhecimento desse desdobramento narrativo, um jornal do Rio de Janeiro, de maneira totalmente deturpada, publicou uma matéria de página inteira, com o título 'Na novela das oito, Glória Menezes é sapatão'. Escandalizado, o público conservador da época rejeitou prontamente a possibilidade da bissexualidade de Marta, sendo a alternância de gênero proposta pelo folhetim algo que colocaria em cheque os dogmas da sociedade. O que fez com que o desdobramento da sua personagem fosse abortado pela emissora e produtora da novela. Como resultado, a personagem Leila teve fim numa mesma explosão que inicialmente mataria apenas Rafaela. E a personagem de Marta manteve comportamento lido socialmente como heterossexual ao longo da trama. Na última cena do casal Rafaela e Leila, na sequência que antecede a explosão do shopping em que se encontravam, temos o seguinte diálogo entre o casal: “Uma coisa como essa tem explicação? Tem sim… Só pode ser esse maldito preconceito”.
Em 2013, a telenovela Amor à Vida, exibida diariamente no horário nobre das nove horas da noite por oito meses, temos a personagem Eron, que inicia a história com seu marido Niko e acaba o traindo com uma mulher chamada Amarilys. Para além dos detalhes, a narrativa vilaniza Eron a partir do momento em que ele se envolve com Amarilys, não somente por esse relacionamento configurar uma traição, mas também por sua atração se direcionar a uma mulher quando era direcionada somente a um homem anteriormente. A sexualidade de Eron se torna debate público entre as personagens e ele recebe xingamentos constantes que dizem respeito à sua atração sexual e afetiva e, consequentemente, visto que representações carregam sentidos da realidade mesmo que de forma limitada, tais comentários dizem de Eron e dizem também da bissexualidade. Por fim, Eron se declara homossexual e termina a narrativa ao lado de um novo namorado.
Um caso semelhante também ocorre nos filmes Minha Mãe É Uma Peça 2 (2016) e Minha Mãe É Uma Peça 3 (2019), famosas comédias brasileiras que, partes de uma franquia, ocupam as primeiras posições de maior bilheteria do cinema brasileiro. Na narrativa dos filmes há certamente algumas diferenças: o personagem em questão, Juliano, se assume bissexual diversas vezes ao longo do segundo filme. Sua bissexualidade é um dos grandes conflitos da trama, sendo tratada como um problema na vida de sua mãe que deve ser resolvido para que ela tenha paz e tranquilidade em relação ao futuro do filho. Porém, na conclusão da narrativa, seu destino é próximo ao de Eron: Juliano se casa com um homem e nada mais se diz sobre “a grande questão” do filme anterior. Sua mãe se tranquiliza, assumindo o casamento de seu filho como o retorno à homossexualidade, algo que ela já havia conseguido “superar”.
Assim, com esses exemplos de representação midiática, conseguimos compreender um pouco da visão hegemônica da bissexualidade no Brasil. Aqui, através de certas câmeras e ângulos, parecemos vilões, selvagens e vulgares, vírus que se infiltram nos dois mundos que não nos compreendem: a heterossexualidade e a homossexualidade.
Porém, na mesma época em que encontramos representações como as de Eron, conseguimos encontrar representações com outras abordagens da bissexualidade, sendo algumas produzidas pela mesma emissora, a Rede Globo. Na minissérie O Canto da Sereia (2013), temos uma protagonista complexa que tem sua vida e morte como pano principal da história. Ela se envolve com homens e mulheres durante os episódios. Sua orientação sexual é parte de seu ser pulsante e é vista de forma mais próxima da neutralidade, apesar de a vermos como mulher evidentemente sexual.
No ano seguinte, a telenovela Em Família (2014) retrata em um de seus núcleos a história do amor de um casal de mulheres em que uma delas é bissexual. Aqui, o foco é no romance entre duas personagens positivamente retratadas, mas, ainda assim, vemos o contraste da relação delas ser retratada completamente sem beijos ou demonstrações de afeto mais sexuais, como que para ser mais aceitável frente a um público conservador. O casal, na maior parte do tempo, demonstrou seu amor (e sua atração) através de beijos na testa e carinhos no rosto. Esse aspecto da narrativa incomodou parte do público, que gostaria de ver uma representação mais equilibrada em relação àquela dos casais de homens e mulheres cis, onde os beijos são constantes e não faltam cenas de relações íntimas.
Por fim, uma produção cinematográfica que podemos destacar como representação positiva é o filme Califórnia (2015), dirigido por Marina Person, que tem em sua trama um adolescente bissexual sensível e bem resolvido com sua sexualidade ocupando um espaço de destaque na trama como romance da protagonista. Sabendo que podemos ser vulgares, promíscuos e "incorretos", algumas produções - aquelas alternativas - constroem representações sem medo da confusão que pode nos fazer parte. Ou até mesmo nos apresentam tramas em que personagens bissexuais estão certos de suas orientações desde o princípio, afirmam suas identidades, dizem seu nome e são menos errantes. Sendo todos os caminhos possíveis e sabendo disso, nós, como comunidade, continuamos a distribuir comentários onde conseguimos e alcançamos, na crítica e na exigência de que exista e de que possamos compor um debate sobre o que, dentro da nossa cultura, significa ser bissexual.
EIXO POLÍTICA:
Um fato marcante para os movimentos populares e para a população bissexual brasileira remonta ao dia 14 de março de 2018, quando a vereadora da cidade do Rio de Janeiro Marielle Franco foi brutalmente executada. Marielle foi uma mulher negra, da favela, bissexual, defensora ferrenha dos direitos humanos e combatente da violência nas favelas. Sua morte é mais um crime político no Brasil que até hoje não foi solucionado. Após a sua morte, Marielle foi vítima de uma campanha de notícias falsas que relacionavam sua imagem a traficantes de drogas e teve sua bissexualidade apagada diversas vezes, inclusive por aqueles que se encontram no mesmo campo político ideológico que ela.
Na primeira eleição municipal após o assassinato de Marielle Franco, ocorrida neste ano de 2020, o seu legado se fez presente. As eleições de 2020 foram históricas, em termos de candidaturas e resultados com pessoas LGBT+. Foi a eleição que mais elegeu mulheres negras e pessoas LGBT+ no Brasil, desde sempre. Segundo o levantamento feito pela Frente Bissexual Brasileira foram eleitas oito mulheres bissexuais do campo político ideológico progressista de esquerda no país. Em números totais este pode não ser um número marcante, mas o contexto político e social brasileiro é de um conservadorismo extremo, onde a supressão dos direitos de minorias é uma das bases ideológicas do governo de Jair Bolsonaro. Portanto, a eleição destas mulheres bissexuais é um sopro de esperança e uma afirmação da força política dos movimentos sociais no país mesmo em tempos tão adversos e violentos. Em meio a tantas perdas, 2020 verá a primeira mulher negra e LGBT+, uma mulher bissexual, atuante no campo de esquerda, ocupar uma cadeira na Câmara de Deputados Federais - Vivi Reis.
A FORMAÇÃO DA FRENTE BISSEXUAL BRASILEIRA E O FESTIVAL BI+
Como resultado de um encontro virtual realizado em 28 de Junho de 2020, como marco do Dia Mundial do Orgulho LGBT+, surge no Brasil uma nova iniciativa que dá corpo a organização da Frente Bissexual Brasileira, movimento nacionalizado que busca unir e fortalecer a militância bissexual no país e visibilizar pautas que discutam e exaltem a monodissidência. O encontro foi resultado de uma iniciativa do Coletivo ComBi/SC, de mapear e contatar outros coletivos bissexuais em atividade, incluindo diversas pessoas bissexuais ativistas e atuantes no Brasil.
Como primeira atividade da Frente Bissexual Brasileira, foi criado e transmitido ao vivo dia 26 de Setembro de 2020, o Mês da Visibilidade Bissexual, o primeiro festival artístico-cultural bissexual brasileiro, com cerca de 9 horas de programação ininterruptas, unindo música, teatro, literatura, artes visuais e performances de artistas bissexuais: o Festival Bi+. Um festival inédito feito por bissexuais para bissexuais. Trata-se de um marco no movimento bissexual brasileiro, tanto que há hoje uma indicação de se criar o Dia Nacional da Visibilidade Bissexual para marcar o 26 de Setembro de 2020.
A Frente Bissexual Brasileira hoje está formada por dezenas de militantes independentes e por 11 (onze) coletivos: Bi-Sides (SP), Bisibilidade (RJ), Coletivo Amora (RS), Coletivo BIL (MG), Combi (SC), Frente Bi de BH (MG), Frente Bi (PI), Maria Quitéria (PB), MovBi (PB), Vale PCD (PE) e Visibilidade Bahia (BA).
@amoracoletivo
@bisibilidade
@coletivobil
@coletivobisides
@combisc
@frentebi-bh
@frentebipi
@maria.quiteria.pb
@movbi
@pcdvale
@visibilidadebissexualba
A CONSTRUÇÃO DO FESTIVAL BI+
A identidade política bissexual é motivo de orgulho, festa e alegria. Assim, como primeira ação da Frente Bissexual Brasileira, foi construído um evento ambicioso que buscou afirmar o orgulho bissexual no mês de setembro e marcar um espaço seguro de acolhimento e celebração do orgulho bi para essa população: o Festival Bi+. Através de uma live cultural composta por artistas bissexual das mais diversas áreas e disponível gratuitamente para todos no Youtube, com tradução simultânea em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Na escolha do título do evento, o símbolo de adição surgiu como forma de abarcar todas as identidades monodissidentes, mas também de tornar a ação uma experiência compartilhada entre produção, artistas e público. A organização buscou artistas envolvidas com performances, desenho, literatura, música, arte drag, poesia marginal e quem mais criasse alguma forma de arte e quisesse participar. Como o interesse foi grande, se fez necessária a realização de uma atenta curadoria para o repertório. Pelos valores da Frente Bissexual Brasileira, foi priorizada a participação de artistas racializadas, trans e gordas. Em relação à distribuição regional, verificou-se a sub-representação das regiões centro-oeste e norte do país nas opções de nomes. Este é um problema histórico do Brasil, que privilegia as regiões sudeste e sul, com recursos, informação e visibilidade. Mesmo buscando realizar um evento com representações de todas as regiões do país, este objetivo não foi alcançado pela primeira edição do Festival Bi+.
No dia 26 de setembro de 2020, a Frente Bissexual Brasileira transmitiu aproximadamente 9 horas de programação inédita inteiramente bissexual para um público médio e fiel de 70 pessoas. Hoje a visualização da programação do Festival Bi+ soma mais de 1.600 (mil e seiscentas) visualizações no canal do Youtube. Houve inúmeras dificuldades técnicas, mas todas contornadas. O Festival Bi+ entregou performances artísticas, bate-papos com artistas visuais, debates sobre ativismo bissexual, discussões sobre a história do movimento bi no Brasil, interseccionalidades na população bissexual e projeções sobre o futuro enquanto comunidade.
O Festival Bi+ foi um marco no movimento bissexual brasileiro porque através dele foi possível assistir produções culturais das mais variadas, criadas por pessoas plurais que representaram toda a capacidade e originalidade brasileira, sendo todo protagonizado por pessoas bissexuais e inteiramente produzido, pensado e organizado por pessoas bissexuais. Isto muito impacta na subjetividade e na representatividade bissexual brasileira. A Frente Bissexual Brasileira abraçou e abraça dezenas de milhares de pessoas bissexuais neste momento tão dramático que estamos vivendo, mas cheio de potência transformadora.
Por Frente Bissexual Brasileira